sexta-feira, janeiro 27, 2006

Hoje há futebol

Com o fim de semana à porta, as conversas na tasca andam animadas pela bola. A história mais comentada passa rés-vés o dérbi de Lisboa, entre o Benfica e o Sporting. Luís Filipe Vieira, presidente dos encarnados, mostrou-se solidário com os árbitros portugueses. Em declarações pungentes, capazes de fazer chorar as pedras da calçada, LFV recordou uma reunião havida em Leiria, em que os homens do apito lhe explicaram - e aos outros dirigentes presentes - as difíceis condições em que trabalham. No dia em que o Sporting levanta dúvidas sobre a idoneidade de árbitro auxiliar, o presidente do Benfica defende os árbitros e mostra-se solidário. Uma questão de cortesia que só lhe fica bem, pois para quem vai vendo a bola a desfilar pela tv, semana sim, semana sim, os árbitros têm sido muito solidários com o Benfica, e respectivo presidente. Quando não há um jogador a dar uma mão ao Benfica, há sempre um árbitro solidário.
Mais. O senhor Vieira, talhado nos jornais desportivo como o novo paladino da honestidade e da justiça desportiva em Portugal, fala de barriga cheia. Fala protegido pela imprensa sulista e benfiquista que molda este país, que o faz andar para trás no tempo. Só assim se percebe que o Benfica tenha contratado dois jogadores ao Setúbal nos "arredores" - ninguém sabe se foi antes, durante ou depois - do jogo com a equipa setubalentes; que tenha emprestado um desses jogadores, José Fonte, ao Paços de Ferreira, adivinhem, na véspera de jogar com o... Paços de Ferreira; que tenha contratado um jogador à Académica dois dias depois de jogar com a Académica, ao cabo de algumas semanas de inactividade do jogador, em litígio com o clube de Coimbra; ou, ainda, que tenha negociado o empréstimo de jogadores ao Gil Vicente na véspera - "and do I need to say more?" - de jogar com o... Gil Vicente. A imprensa desportiva, sempre tão expedita a denunciar situações dúbias ou de ética questionável estava ocupada em fazer manchetes com as novas contratações do Benfica, sem questionar, como compete a uma imprensa séria e isenta, os métodos ou os meios.
Acresce a isto, e a propósito do dérbi da capital, a incredulidade de Ronald Koeman, treinador do Benfica, às críticas do presidente do Sporting, Soares Franco, após o jogo com o Marítimo. Para quem tem tido tantas mãos amigas a amparar-lhe o caminho, fica muito mal aquele sorriso sarcástico. E o cometário, também, ainda que o presidente do Sporting tenha pouca razão.