segunda-feira, outubro 23, 2006

"Bitaites" sobre os impostos

Súmula dos "bitaites" proferidos (em alguns casos vociferados) cá na Tasca a propósito das alterações aos impostos decorrentes da proposta para o Orçamento de Estado de 2007:

1 - Os solteiros, que já têm de pagar sozinhos a água, a luz, o gás, a renda da casa (seja senhorio pessoa ou banco), bem podem pagar mais impostos. Ficarão, provavelmente, com menos dinheiro para sair e tentar encontrar uma fêmea que com eles queira partilhar a nobre e apaixonante tarefa de criar uma vida em conjunto com o fito primeiro de poupar nos impostos, missão sempre aliciante, quando poupar no que se paga ao Estado, ainda que legalmente, arrasta sempre aquele frémito, aquela emoção de se estar a fugir ao fisco; a fazer justiça, portanto.
Ainda que o dinheiro chegue para sair, beber uns copos, gunar por aí até encontrar a cara metade, resta saber se, pagando mais impostos, aos solteiros sobra dinheiro para os jantares, as flores, os preservativos, os dildos, a lingerie, os fins-de-semana fora de casa, as prendas de uma semana de namoro, duas, três, quatro, um mês, dois, três, e por aí adiante.
Enfim, resta saber se se sobra dinheiro para namorar, para amar.
Se calhar, o Governo ainda vai ter de dar um subsídio para acasalamento.

2 - Os reformados, esses latifundiários da moeda, riquíssimos proprietários de quintas onde dinheiro cresce e biblicamente se multiplica, que têm reformas, que loucura, superiores a 440 euros, essa inimaginável fortuna mensal, vão pagar mais impostos. Ainda bem.
Louve-se esta medida de justiça social, esta acção profiláctica - com interacção medicamentosa com o aumento brutal da electricidade, dos combustíveis e de tudo o resto, é certo, a partir de Janeiro - que consiste em reduzir as fortunas mensais dos pensionistas, evitando assim que entrem, aos magotes, loucos, pelos ínvios caminhos da droga, do álcool, da luxúria; evitar que pereçam vítimas da febre consumista.
Bem haja este governo, que quer manter os pensionistas pobres, dependentes dos descendentes, mantê-los à míngua, para que secos que nem bacalhaus possam transmitir ao netos os saudáveis louvores da poupança. Bem hajam!

3 - Os deficientes, essa gente que só porque a vida lhes foi madastra acha que pode explorar o Estado no resto da vida, ainda que baça e trémula. Pois que paguem tanto como os outros, de acordo com os rendimentos que auferem, alguns, impensáveis fortunas superiores às de muitos reformados, pasme-se.
Pois que paguem as cadeiras de rodas e outras necessidades (comodidades, na ministerial visão) do próprio bolso; que se deixem dessas modernices de fisioterapias, que desde que o Mundo é Mundo que há deficientes, e anos a fio houve em que sem cadeiras, sem rodas e sem parvoíces fisioterapêuticas eles lá se amanharam.
Pois sim, senhor ministro, corrija-se essa tremenda injustiça que é taxar menos quem mais sofre, que é pedir menos a quem a vida já muito tirou ou pouco deu.
Pois sim, senhor ministros, é tempo de essa gente se deixar de lamechices e perceber que tem de pagar tanto como todos, que não se pode furtar ao sacrifício que o Governo pede à Nação só porque lhe faltam duas pernas, ou braço e meio, ou porque não sentem dor ainda que lhe cortem as unhas dos pés rente aos calcanhares, ou porque faça chuva ou faça sol só vêm névoa, ou seja dia ou seja noite só o breu lhe faça companhia. Paguem, e não se queixem!

4 - Futebolistas pagarem de acordo com o vencimento real, apesar de utópico, parace bem na hora de receber. E quando os ditos "craques" estiverem de baixa ou forem para a reforma, não irão pontapear ainda mais a debilitada Segurança Social? Ou vão ser chamados a contribuir, sem direito a receber mais tarde? Se assim for, justificarão, então, os encómios e as honras de heróis pátrios com que têm sido tratados, particularmente na última meia-dúzia de anos.