sábado, outubro 14, 2006

O termómetro e a enfermeira (não, isto não é um conto erótico)

O pessoal cá da tasca reuniu-se para fazer uma colecta com o objectivo de ajudar o Ministério da Saúde. Ficou barato e em três tempos lá se arranjaram os 8,5 euros necessários para a compra de um termómetro, digital no caso. Uma oferta cá da Tasca do Belmiro para um Centro de Sáude cá do sítio. É que no dito CS, cujo nome não vamos revelar por razões que adiante explicaremos, o único termómetro que há já não deveria existir: é daqueles de mercúrio, proibidos faz alguns anos. A enfermeira, quando confrontada com o facto, encolheu os ombros e disse: "É o que há". Mas o que há, não deveria existir! "Pois, mas é melhor este que nenhum..." retorqui a celestina.
O caso tem suscitado animadas e emocionadas conversas - o álcool ajuda, obviamente - cá na tasca. Logo houve alguém a brandir a espada da falta de profissionalismo das celetinas e dos nosócomos, acusando enfermeiras e enfermeiros de não terem brio, cá com frases de emoção "envinhada" do género "eu já teria comprado uma caixa de termómetros para oferecer ao centro de saúde". Isto, para resumir o sentimento em palavras de família.
Uma voz, mais serena e comedida, contou a história de uma tia, daquelas tias que todos temos, que só nós conhecemos e que dão um jeitaço para colorir e dar verdade às histórias. Enfermeira, essa tia, também ela em um centro de saúde de parcas condições e humilde clientela, que ousou comprar utensílios necessários ao exercício do mester, fazendo uso de alguns cobres próprios para impor o brio e o profissionalismo, ajudando o centro de saúde a servir melhor - embora todos saibamos que isso não vai mudar a ideia generalizada de que o serviço é mau, desumanizado e distante. A história, contada por alguém que jura a pés juntos e olhos aberto ser verdade verdadinha, acaba com uma ameaça de processo disciplinar à dita e briosa enfermeira. Entendeu, assim foi contado, o director do referido centro de saúde que tal atitude configurava insubordionação, não brio profissional, insulto, não empenhamento descomprometido, e questionava a autoridade do autoritário chefe.
A verdade jurada desta história é o motivo, agora se explica, porque é omitido o centro de saúde que segunda-feira, salvo qualquer imprevisto, vai ser ofertado com um novíssimo termómetro digital. Como não podem acusar aqui o povo da tasca de insubordinação, talvez não sintam o insulto e aceitem, de bom grado, a ajuda em forma de termómetro, a bem dos utentes que, à falta de alternativa, lá têm de se sujeitar as enfermidades ao tratamentos do Serviço Nacional de Saúde.