quarta-feira, outubro 18, 2006

O último (a)paga a luz

A electricidade vai aumentar 15,7% a partir de Janeiro. Era de esperar, com a privatização anunciada há cerca de dois meses. Foi assim com a liberalização do preço dos combustíveis, com a privatização de muitas das águas, com a liberalização do mercado das comunicações. Portugal é o país onde quando há privatizações, quando há mais concorrência, os preços aumentam. Isso explica-se porque, no fundo, isto a que muitos chamam país, está nas mãos de meia-dúzia de famílias - financeiras sanguíneas e finanço-sanguíneas - e o negócio é fazer de conta que há concorrência, porque todos querem é ganhar e cá o Belmiro, como Zé, paga.

Apesar da liberalização do mercado eléctrico, a EDP não tem concorrência ao nível da baixa tesnão, a dos consumidores particulares, como tem na média (das empresas). Não tem porque, no momento da liberalização do mercado, este, o mercado, não era apetecível, não era competitivo. Isto é, não dava para ganhar dinheiro. Agora, com a actualização das tarifas, certamente ficará mais apetecível e é quase certo que vão aparecer os interessados em “concorrer” com a EDP. O mercado vai abrir-se, mas como aconteceu com todos os mercados liberalizados, vai ficar mais caro do que era enquanto monopólio.

O secretário de estado justificou o aumento com grande parcimónia. “Quem provocou o déficit, quem gastou, agora vai ter de pagar”. E pronto, o princípio do utilizador é sempre demagogicamente defensável, mas aí onde ficam os deveres do Estado perante os cidadãos. Não compete ao Estado zelar pelo bem estar das pessoas? É opinião unânime cá na tasca que sim, por isso se pergunta: com estas medidas tão de Direita deste Governo “socialista” o objectivo é o Estado dar lucro, é a optimização empresarial do Estado como empresa? Mas então não é obrigação quase histórica de um Estado estar permanentemente endividado, para que os seus cidadãos possam viver um pouco melhor? Que bem me faz a muitos de nós que vamos começar a pagar portagem para ir para casa, onde a energia eléctrica para viver vai ficar mais caro que o Estado chegue ao fim do ano e apresente lucro nas contas públicas?