quinta-feira, outubro 19, 2006

Pare, SCUT e... olhe, tenha paciência!

O presidente da Câmara de Vila do Conde, ao comentar o anúncio do fim das SCUT no Grande Porto, disse algo do género, aqui reproduzido de ouvido: “O sr. Ministro vive em Lisboa e não conhece o Porto. Se conhecesse não dizia o que disse avançava com isto”. Acontece, que dizem as más línguas, com o devido respeito pelo autarca e pelo ministro das Obras Públicas, que Mário Lino ou conhece bem o Porto ou está aconselhado por quem conhece bem os ínvios caminhos que são deixados, a tíulo gratuito, aos portuenses e nortenhos em geral com o fim das SCUT’s na A28, A29 e IC24. É que conhecendo as alternativas, quem se quiser movimentar – e movimentar é, no caso, literalmente não estar parado – nas zonas abrangidas pelas SCUT em vias de extinção, vai ter mesmo de andar e pagar, porque as alternativas não merecem tal tratamento.
Vejamos:

A28 – Porto – Viana do Castelo.
Alternativa – EN13:
Se o objectivo é fazer um passeio por uma zona arejada, verde, de grande produção agrícolo, aproveitando para comprar cebolas, batatas, nabiças, pencas e outras hortículas, a EN13 é a alternativa ideal para quem tem de viajar entre o Porto e Viana do Castelo (que tem um dos mais importantes portos de mar do país). Como bónus, a passagem pelas cidades de Vila do Conde, Póvoa do Varzim e Esposende, onde a fluência praticamente inexistente do trânsito permitirá apreciar – sem alternativa – o casario típico de ambas as cidades piscatórias (se viajar pela manhã, bem cedo, pode ainda comprar bom peixe, e fresquinho). Se o objectivo é ir do Porto a Viana do Castelo sem abastecer a despensa e o frigorífico, fazendo a viagem com alguma comodidade e rapidez, então a EN é tudo menos alternativa. No caso, a alternativa é pagar!

IC24 – Porto - Lousada
Alternativas EN 105 e EN 207.
Ainda em construção, o IC24 surge com dois objectivos nobres:
1 – Desviar o trânsito que vem de Norte para Sul da VCI, o centro do caos rodoviário do Porto, criando uma alternativa que passa ao largo da Invicta, facilitando a vida a quem precisa e a quem não precisa de andar no Porto.
2 – Proporcionar uma alternativa rápida, cómoda e segura à zona fortemente industrializada entre a Maia e Lousada, passando por Paredes e “capital do Móvel” Paços de Ferreira. Quando foi inaugurado o primeiro troço, talvez há uns 18 meses, foi anunciada como a via estruturante que ia ajudar as empresas da região a vencer a crise, como a estrada que levaria mais depressa e mais longe os produtos locais. Agora, só a pagar ou pelas alternativas EN207 e EN 105, que até à inauguração do IC24 não serviam para escoar condiganamente os produtos, como se depreende das ministeriais palavras inauguratórias.

As Alternativas (EN 105 e EN 207):
Se o objectivo é andar a passo de caracol por um emaranhado de casarios, aldeias, aldeolas, vilas e vilórias, qualquer uma das estradas servel. De Água Longa para a frente, a 105 deixa de servir a quem pretender entrar no coração da Rota dos Móveis. A Nacional 207, subindo a Serra da Agrela proporciona ainda a revisitação do roteiro da prostituição à antiga portuguesa. Para os mais exasperados ou dados a estas coisas, podem aliviar o stress de andar 10 quilómetros a ver a traseira de um camião a desfazer-se em fumo negro – Aviso: à vista desarmada, para um não-cliente, a muitas das trabalhadoras da indústria do relxa e entretenimento que pululam a EN 207 são, no mínimo, Balzaquianas maduras, sofrendo das naturais consequências da erosão temporal.

A29 – Gaia – Estarreja
Alternativa EN 109:
Ainda no percurso urbano, de um Grande Porto que vai até Espinho, há troços da “alternativa” que ficaram soterrados pela A29, concluída há cerca de um ano. Para quem vai do lado do Porto para Sul, depois de passar Vila Nova de Gaia, se não quiser pagar portagem tem de sair no nó de Francelos, andar duas a três centenas de metros sobre os restos mortais – e abandonados – da antiga 109, antes de escolher o rumo.
Tem duas opções: embrenha-se pelo emaranhado de estradas mal amanhadas nas localidades de Gulpilhares, a nascente, ou Francelos, a poente – em ambos os casos, vias estreitas, maioritariamente de paralelo e irregulares, onde mal passam dois carros e com frequência usadas como parque de estacionamento para os moradores, aliviados com o desvio do trânsito infernal de décadas após a inauguração da A29; a outra alternativa, saindo em Francelos, obriga à descida ao inferno das filas de trânsito junto à praia, obsviamente durante os meses de veraneio.
Depois de escolher um entre estes três tormentos, regressa-se à EN109, no nó de Arcolezo, junto a um Horto que é provavelmente o local mais frequentado do Mundo, aos fins-de-semana. Daí em diante, até Aveiro, são longos quilómetros de estrada com um limite de velocidade raramente superiror a 50 km hora, numa malha habitacional de tal forma enraizada que há portas que se abrem para o meio da via. Depois, há as escolas, as creches e toda uma vida feita, durante décadas, na beira da estrada, que prometem infernizar a vida a quem não quiser – ou não puder – pagar a portagem.