sexta-feira, dezembro 08, 2006

Curva à Direita

Cavaco Silva e Rui Rio, provavelmente duas das figuras que melhor encaixam na imagem de políticos de Direita em Portugal, defendem e elogiam o actual Governo PS. O "sr. Silva", como lhe chamou Alberto João Jardim, aplaude e, provavelmente apoia e/ou incentiva, o "caminho reformista" de José Sócrates; o presidente da CM do Porto, a quem na Invicta já chamaram de quase tudo, elogiou o "rumo" das reformas do Executivo.

Ora, posto isto, que faz José Sócrates e o seu, dele mesmo, quase sem contestação*, PS, elogiado por duas das principais personagens da Direita, num congresso de socialistas europeus?

A pergunta coçou as meninges de muita gente cá na tasca. Mas, ao ler os jornais esta manhã, lá percebemos que o congresso do PES reúne representantes de partidos socialistas e sociais-democratas, a linha ideológica do PSD (sem o PPD de Santana Lopes) do "sr. Silva" e do "sr. Rio", que por acaso também tem Silva no B.I.

E, da leitura dos jornais, percebe-se que os "socialistas" (de agora em diante, neste desabafo entre aspas, dadas as dúvidas que suscita a orientação ideológica actual) estiveram, pelo menos no primeiro dia, mais preocupados com uma construção da Europa, em salvar a União Europeia (um mercado de quase 500 milhões de consumidores, convém lembrar) e em relançar as relações com os EUA, cujo líder da agora maioria Democrata no Congresso figurou entre os convidados de honra e mais encumiasticamente honrados nas palavras de quase todos.

É caso para perguntar, e as pessoas, aquilo a que os políticos em campanha chamam de "o povo"? Nada?

Pouco, muito pouco, quase em nota de rodapé se falou de pessoas. Ségolène Royal, candidata do PS francês às eleições presidenciais de 2007, ainda falou na vontade de, se for eleita, construir uma "Europa para as pessoas, capaz de combater o desemprego e o aumento do custo de vida". A estrela mais rutilante do socialismo europeu ousou, até, atacar Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (aquela instituição a que a banca portuguesa sempre se antecipa para aumentar as taxas de juro), não "tem o direito de decidir o futuro da economia europeia".

Cruzes, quase parecia um discurso de Esquerda da Madamme Ségolène, traída por uma expressão de José Sócrates: "Não se preocupe se lhe disserem que não é de Esquerda. Já ouvi isso muitas vezes, sem me incomodar", disse o primeiro-ministro português àquela que foi apresentada como "a próxima presidente de França". Pois é senhor-ministro, mas a si, até a Direita concorda que a sua governação não é de Esquerda, como se vê diariamente nas políticas do Governo, onde o único lugar reservado ao povo é o de pagar a crise...

* No Congresso do PS, a 22 de Novembro, só Helena Roseta e Manuel Alegre ousaram fazer discursos fora da norma consensual, ousando colocar em causa algumas políticas do Governo. E Alegre, candidato presidencial fora da norma do PS, até foi convidado a fazer parte da Comissão Nacional do Partido. Que recusou...