terça-feira, outubro 31, 2006

Meter água

O slogan de uma marca de água, Luso segundo creio (desculpem a ignorância, mas isto é sítio de vinho e outros alcoois...), diz isto: "Somos 75% água".
Manter estes 75% de água, custa-nos 75% em impostos, quando de consumo de água se trata.
Como dizia um anterior titular de S. Bento, "é só fazer as contas", com base nesta factura da água:
"Consumo de água - 10,14 €
"Aluguer de contador" - 7,46 €
"Tarifa Utiliza-Saneam (2,0)" - 5,04 €
"Resíduos Sólidos -F" - 3,00 €
"Tarifa Disp - Saneam (2,0)" - 7,40 €
"Resíduos sólidos" - 3,40 €
"IVA 1" - 1,50 €

Total - 37,94 €

Decompondo a factura:
Consumo efectivo- 10,14 €
Impostos e taxas - 27,80 €
Total da factura - 37,94 €

Isto é: por cada euro de água consumido, paga-se sensivelmente 2,6 euros, isto é, por cada 200 escudos de água gasta, pagam-se 620 escudos!

sábado, outubro 28, 2006

SCUT: Justificar o injustificável

Pronto, lá voltou a discussão das SCUT, dois dias depois de, cá na Tasca, termos dado o assunto por encerrado.No entanto, a manchete do semanário "Sol", de 28 de Ourubrto de 2006, veio relançar a conversa, com base nas "Suspeitas na SCUT", como titula.
Segundo o semanário, Vasco Gueifão, assessor do secretário de Estado das Obras Públicas, foi co-fundador da "F9 Consulting", a empresa que elaborou os estudos em que se baseou o Governo para acabar com três SCUT.
A secretaria diz que Gueifão está desvinculado da empresa, mas, segundo o "Sol", o despacho "de nomeação nº 12.129/2005, assinado pelo secretário de Estado, refere a situação de requesitado (mantém o vínculo à F9 Consulting), mas o ministério das obras públicas refere que se trata de um lapso", que prometeu corrigir.
Desvinculado, ou não, o certo é que a empresa co-fundadado por Vasco Gueifão fez dois estudos para o Estado, por ajuste directo, no valor de 275 mil euros. A secretaria diz que estes valores não obrigam a concurso público. O das SCUT custou 120 mil (sem IVA) e serviu de base à decisão polítca do ministério das Obras Públicas.
"Isso é só uma outra forma de tentar contestar a decisão do Governo em avançar com as SCUT. Os estudos foram valdiadados por uma outra empresa", disse Mário Lino, comentando a notícia do "Sol", tendo como referência a um estudo pedido a uma outra consultora, que considerou "válida" a metodologia usada pela F9 e pela VTM - Consultores. Esta última, segundo o Jornal de Notícias de 25 de Outubro, foi contratada para "confirmar se a diferença de tempo entre as duas SCUT justificava introduzir portagens numa (Grande Porto) e excluir a outra (Algarve). Segundo aquele matutino portuense, a F9 calculou que a alternativa à Via do Infante, Algarve, demorava 140% do tempo, 10% acima do limite tabelado pelo Governo, que foi exactamente, 130%, o tempo calculado para a SCUT do Litoral Norte (Porto-Viana do Castelo). O segundo estudo, da VTM, diz o JN, concluiu que o percusros à alternativa da SCUT do Algarve "é de 93%, bem abaixo dios 130% a partir dos quais o Governo considera a alternativa morosa".
A explicação para as diferenças, segundo fonte citada pelo JN, é que "as conclusões não são comparáveis, porque foi seguida uma metodologia diferente" nos estudos. De que serve, então, a validação das metodologias, se os estudos não são comparáveis?
O estudo da F9, que parece ter prevalecido, "foi feito com recurso a softwares de cálculo de rotas, calibrados a partir do conhjecimento empírico da rede e dos pontos de constrangimento existentes", lê-se no documento do ministério das Obras Públicas. O estudo da VTM, diz o JN, "mediu no terreno o tempo de percurso efectivo".
Os jornais usaram metodologias idênticas às da VTM, com conclusões, no que diz respeito aos tempos nas vias alternativas, desfavoráveis à decisão do Governo. E, calculámos, nem 124 euros terão gasto.

As batalhas de Teixeira dos Santos

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, anunciou a intenção de uniformizar as regras sobre a indexação das taxas de juro, que todos pagámos, e cujos critérios várias vezes aqui têm sido discutidos.

O Governo anunciou, também, a intenção de legislar sobre os arredondamentos das taxas de juro, que rendem milhões aos bancos. É difícil crer na possibildiade de arrendondar para baixo, isto é, a favor do cliente, mas se vingar a ideia de limitar o arredondamento ao máximo de 0,125%, quando muitos bancos arredondam a 0,250%, já será positivo para os consumidores.

Medidas que surgem dias depois de Teixeira dos Santos ter anunciado a uniformização da contabilidade dos bancos, que permitirá arrecadar mais 30 milhões de euros, já em 2006, e de dar conta da vontade de reduzir a diferença entre a taxa de IRC da banca, 18%, e a que pagam as empresas, 25%.

Se estas manifestações de intenção avançarem, Teixeira dos Santos tem duras batalhas pela frente. Se as vencer, o país sairá a ganhar. O Governo, em queda de popularidade, terá, certamente, um momento de empatia com os cidadãos.

Isto, apesar de ser expectável um contra-taque da banca, que terá de recuperar em algum lado os milhões que perderá com a eventual aplicação destas medidas. A taxação dos movimentos no Multibanco pode estar definitavamente no horizonte...

sexta-feira, outubro 27, 2006

Senhor ministro, importa-se de explicar...

"Somos a favor do modelo de SCUT, ou seja, uma discriminação positiva relativamente a auto-estradas que sirvam zonas do país com maior atraso no desenvolvimento económico e social. Obviamente que, quando essas regiões passam a ter indicadores que as aproximam da média do país, o modelo SCUT deixa de ser aplicável".

Mário Lino, ministro das Obras Públicas, em declarações reperoduzidas nos jornais nacionais do dia 26 de Outubro

"Não vamos andar agora a tirar a meter portagens consoantes as regiões enriquecem ou empobrecem."

Mário Lino, ministro das Obras Públicas, citado de ouvido, no "Fórum TSF" de 27 de Outubro, quando confrontado com a notícia do jornal "Público" de as regiões que vão passar a ser portajadas têm empobrecido

quinta-feira, outubro 26, 2006

O IRC e a Banca

"O Governo vai avançar com novas medidas para aproximar a taxa de tributação efectiva da banca - actualmente nos 18% - da que é suportada pela genralidade das empresas - 25%. O anúncio foi feito ontem pelo ministro das Finanças durante o debate do Orçamento de Estado (OE) para 2007", diz uma notícia publicada no Jornal de Negócios, edição de 25 de Outubro de 2006.
Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, disse que não é "insensívelquanto à situação que existe quanto [à distribuição da] carga tributária" e reconheceu a necessidade de fazer um esforço para aumentar a taxa de tributação efectiva da banca".Sem especificar prazos nem medidas concretas, acrescenta a jornalista Elisabete Miranda.
Ou seja, a quimera mantém-se. A manifestação de intenções do Governo, pela voz do ministro, não passa de um arremedo esquerdista e populista, que bem agradou, a mim e a muitos certamente, quando anteontem à noite via os títulos dos jornais.
Chegada a manhã, ao ler a notícia, confirmei a desconfiança de que se trata apenas uma promessa que, à luz das mais elementares regras políticas, não será cumprida.
E, ainda que haja vontade política, a confirmar-se esta notícia, que saúdo, o ministro terá dificuldades em cumprir a promesssa de harmonização de IRC, pois certamente a Banca não ficará de braços cruzados e dificilmente aceitará dois golpes seguidos. Ainda assim, parece positiva a aplicação de novas normas internacionais de contabilidade no sector Bancário.
A propósito do IRC da Banca, um amigo especialista nestas questões, explicou-me que se trata de um IRC social, mais baixo porque se considera(va) que a Banca substitui o Estado ao facultar às pessoas o acesso ao crédito.
Noutra notícia, lia-se, no passado dia 24.
"O lucro do Banco Espírito Santo (BES) subiu 46, 5% nos primeiros nove meses deste ano, face a igual período de 2005, para 304,7 milhões de euros".Se não me engano, isto é sensivelmente metade dos lucros totais dos três principais grupos bancários portugueses em 2005. A fiar num cartaz do PCP, afixado em frente a uma dependência bancária, no ano passado os lucros da banca ascenderam a 627 milhões de euros. Ora, sendo certo que Millennium BCP e o Grupo Totta/Santander não terão andado a dormir, parece certo que os lucros da banca, em 2006, vão disparar, provavelmente, para lá dos mil milhões de euros.
Coitados, é o peso de suportarem o fardo de se substituirem ao Estado nessa abenegada filantrópica missão de possibilitar empréstimos às pessoas.
Se a taxa de IRC fosse igual à que pagam as empresas, quanto encaixaria a mais o Estado?

A pergunta do dia

"Se o ISP [Imposto Sobre os Produtos
Petrolíferos] foi aumentado para financiar as
SCUT, agora que elas vão ser pagas, é possível
descer o imposto?"

Miguel Frasquilho, deputado do PSD, para
Teixeira dos Santos, ministro das Finanças.


Eu acho que não!
Aceitam-se apostas...

quarta-feira, outubro 25, 2006

Make love at war

Uma autarca holandesa está a fazer uma inovadora interpretação do slogan hippie "MakeLove Not War". A senhora sugeriu um destacamento de prostitutas para acompanhar os soldados holandeses em missões no exterior. “O exército precisa de reconsiderar as válvulas de escape dos soldados”, disse a senhora Annemarie Jorritsma, em declarações daqui tiradas. Presidente da câmara de Almere, no centro da Holanda, eleita pelo Partido Liberal VVD, Annemarie defende um "make love at war", mostrando-se favorável a que os membros do exército exercitem os prazeres do sexo nas missionárias tarefas de que são incumbidos no âmbito das acções da OTAN, como é o caso do Afeganistão e da Bósnia.
Se bem que, como diz a senhora Annemarie, as prostitutas poderiam manter os soldados holandeses longe das mulheres locais - embora me custa perceber como pode alguém resistir à tentação do desconhecido que ainda se esconde nas burkas de muitas das mulheres afegãs, ignotas de máquinas e cremes depilatórios - seria preciso definir critérios para lubrificar tão meritória como meretriz actividade.
Algumas questões que se erguem, assim de repente:
1 - Tratando-se de prostitutas, quem lhes pagaria os serviços? No caso de ser o Estado holandês, como poderia controlar o número de horas de trabalho realizadas pelas prostitutas? Se forem os soldados a pagar, serão subsidiados? Ou o Governo vai optar por senhas, tipo de desconto nos restaurantes e, se sim, quantas senhas terá direito cada soldado?
2 - Os oficiais, se cavalheiros, certamente prescindirão desses serviços, mas pode a quantidade e a frequência da queca ser regulada em função da patente, mais ou menos elevada? Pode um soldado raso "quecar" mais que um general de quatro estrelas sem que isso corrompa a tradicional cadeia hierárquica, fundamental ao bom funcionamento de um exército?
3 - As prostitutas poderiam trabalhar para os militares de outros países estacionados nas mesmas frentes de batalha ou estariam em regime de exclusividade ao serviço dos holandeses? Se puderem também afagar outras libidos que não as dos Países Baixos, é-lhes permitido cobrar por isso?
4 - Quem protegerá as prostitutas do ciúme de esposas e namoradas, no regresso das comissões de serviço?
5 - E senhora Ana Maria holandesa, usando as suas palavras, quem se preocupa com as válvulas de escape das mulheres, esposas e namoradas dos soldados que andam lá fora a lutar pela vida, felizes e contentes, sorrisos rasgados, com subsidiados coitos e prazeres carnais à descrição e regulamentados por decreto-lei?
6 - Haverá um reforço do contingente de padeiros, carteiros, leiteiros, jardineiros e estafetas da UPS que diariamente se sacrificam como válvulas de escape das solitárias mulheres e namoradas de soldados holandeses em missões no exterior, sendo que ao desejo corrente acresceria a vontade de vingar, aí nos Países Baixos, o que os maridos e namorados fazem nos intervalos de erguer bem alto o nome da Holanda em tão nobre missões militares?

terça-feira, outubro 24, 2006

Actualização de preços

Perante o aumento da electricidade, as esperadas subidas nos preços do gás e do petróleo, a Tasca do Belmiro, enlevada pelo espírito liberal, mercantilista e ao melhor estilo capitalista, decidiu antecipar – como fazem os agentes económicos sérios – a subida previsível dos preços do pão, do vinho, da carne, do peixe, enfim, de tudo menos dos ordenados!
Por isso, embora os aumentos das energias, custos a reflectir nos meios de produção, só entrem em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2007, cá na Tasca os novos preços entram em vigor já a 1 de Novembro.
Aqui, agora, seguimos os exemplos dos grandes grupos financeiros. Como os bancos: apesar de a Euribor, em Setembro, segundo recomendações do Banco Central Europeu, estar nos 3%, já pagávamos a 3,2025%, porque, como se diz nas formatadas notícias de economia, “o mercado antecipa a provável subida das taxas de juro, em Outubro”. Pois, nós por cá, antecipando subidas para Janeiro, antecipamos os aumentos para Novembro.
Lamentamos qualquer inconveniente que a nossa adesão plena à economia de mercado possa causar aos nosso clientes.
O bagaço (servido disfarçadamente em legalíssima garrafa de Aldeia Velha, haja ou não pastelinhos de bacalhau) continua por conta da casa.

Novos preços, a partir de 1 de Novembro de 2006
Caldo Verde - 1,50 €
Papas de Sarrabulho - 1,74 €

Polvo (pires) - 2,78 €
Bacalhau (posta) - 8,10 €
Punheta de bacalhau - 8,68 €
Milheras (sável) - 6,94 €
Filetes de Pescada - 2,66 €
Bolinhos de Bacalhau - 0,58 €
Perninhas de caranguejo - 0,69 €

Bucho (com molho verde) - 1,74 €
Orelha (de porco) - 2,31 €
Moelas - 2,31 €
Chispe (pezinhos) - 3,47 €
Rojões - 2,89 €
Codornizes - 1,97 €
Prego em prato - 5,79 €
Prego em pão - 2,31 €
Fêvera em pão (bifana) - 1,50 €
Fêvera no prato c/ salada - 2,89 €
Fêvera c/ salada e batata frita - 4,05 €
Sande de presunto - 2,55 €
Presunto (pires de 100 gramas) - 2,31 €
Sande de lombo assado - 1,97 €
Lombo assado em prato (c/ salada) - 2,66 €
Sande de vitela - 2,55 €
Cabrito - 4,05 €
Bife em prato, simples - 6,94 €
Pica-pau de bife - 8,10 €
Pica-pau de fêvera - 5,79 €

Vinho tinto da casa (verde) - 3,93 €
Vinho branco da casa (verde) - 2,78 €


A gerência,

segunda-feira, outubro 23, 2006

"Bitaites" sobre os impostos

Súmula dos "bitaites" proferidos (em alguns casos vociferados) cá na Tasca a propósito das alterações aos impostos decorrentes da proposta para o Orçamento de Estado de 2007:

1 - Os solteiros, que já têm de pagar sozinhos a água, a luz, o gás, a renda da casa (seja senhorio pessoa ou banco), bem podem pagar mais impostos. Ficarão, provavelmente, com menos dinheiro para sair e tentar encontrar uma fêmea que com eles queira partilhar a nobre e apaixonante tarefa de criar uma vida em conjunto com o fito primeiro de poupar nos impostos, missão sempre aliciante, quando poupar no que se paga ao Estado, ainda que legalmente, arrasta sempre aquele frémito, aquela emoção de se estar a fugir ao fisco; a fazer justiça, portanto.
Ainda que o dinheiro chegue para sair, beber uns copos, gunar por aí até encontrar a cara metade, resta saber se, pagando mais impostos, aos solteiros sobra dinheiro para os jantares, as flores, os preservativos, os dildos, a lingerie, os fins-de-semana fora de casa, as prendas de uma semana de namoro, duas, três, quatro, um mês, dois, três, e por aí adiante.
Enfim, resta saber se se sobra dinheiro para namorar, para amar.
Se calhar, o Governo ainda vai ter de dar um subsídio para acasalamento.

2 - Os reformados, esses latifundiários da moeda, riquíssimos proprietários de quintas onde dinheiro cresce e biblicamente se multiplica, que têm reformas, que loucura, superiores a 440 euros, essa inimaginável fortuna mensal, vão pagar mais impostos. Ainda bem.
Louve-se esta medida de justiça social, esta acção profiláctica - com interacção medicamentosa com o aumento brutal da electricidade, dos combustíveis e de tudo o resto, é certo, a partir de Janeiro - que consiste em reduzir as fortunas mensais dos pensionistas, evitando assim que entrem, aos magotes, loucos, pelos ínvios caminhos da droga, do álcool, da luxúria; evitar que pereçam vítimas da febre consumista.
Bem haja este governo, que quer manter os pensionistas pobres, dependentes dos descendentes, mantê-los à míngua, para que secos que nem bacalhaus possam transmitir ao netos os saudáveis louvores da poupança. Bem hajam!

3 - Os deficientes, essa gente que só porque a vida lhes foi madastra acha que pode explorar o Estado no resto da vida, ainda que baça e trémula. Pois que paguem tanto como os outros, de acordo com os rendimentos que auferem, alguns, impensáveis fortunas superiores às de muitos reformados, pasme-se.
Pois que paguem as cadeiras de rodas e outras necessidades (comodidades, na ministerial visão) do próprio bolso; que se deixem dessas modernices de fisioterapias, que desde que o Mundo é Mundo que há deficientes, e anos a fio houve em que sem cadeiras, sem rodas e sem parvoíces fisioterapêuticas eles lá se amanharam.
Pois sim, senhor ministro, corrija-se essa tremenda injustiça que é taxar menos quem mais sofre, que é pedir menos a quem a vida já muito tirou ou pouco deu.
Pois sim, senhor ministros, é tempo de essa gente se deixar de lamechices e perceber que tem de pagar tanto como todos, que não se pode furtar ao sacrifício que o Governo pede à Nação só porque lhe faltam duas pernas, ou braço e meio, ou porque não sentem dor ainda que lhe cortem as unhas dos pés rente aos calcanhares, ou porque faça chuva ou faça sol só vêm névoa, ou seja dia ou seja noite só o breu lhe faça companhia. Paguem, e não se queixem!

4 - Futebolistas pagarem de acordo com o vencimento real, apesar de utópico, parace bem na hora de receber. E quando os ditos "craques" estiverem de baixa ou forem para a reforma, não irão pontapear ainda mais a debilitada Segurança Social? Ou vão ser chamados a contribuir, sem direito a receber mais tarde? Se assim for, justificarão, então, os encómios e as honras de heróis pátrios com que têm sido tratados, particularmente na última meia-dúzia de anos.

Raios e Coriscos

Temos lido o Coriscos e, raios, temos gostado. Assim, de hoje em diante, esse abrigo portuense tem uma porta aberta aqui a partir da Tasca. E logo a partir da data em que as portas que se abrem sobre uma ínfima parte da blogosfera estão organizadas por ordem alfabética.

domingo, outubro 22, 2006

As cebolas

Por que razão em cada saco de cebolas comprado nos hipermercados há sempre e pelo menos uma que vem podre? Idem com os sacos de batatas?

É uma questão de natureza. De natureza humana...


P. S. Por falar em cebolas, como evitar chorar quando se descascam cebolas? Fácil, não criar laços emocionais!

Impostos eróticos

O Neca Carrapato entrou na tasca radiante. Não pediu bebida, muito menos comida, e logo atalhou:
"Hoje tive e melhor noite de sexo dos últimos tempos. Pedi a minha namorada em casamento, ela adorou e eu adorei o facto de ela ter adorado. Claro que só o fiz para não ser penalizado nos impostos, mas se casar me vai proporcionar mais noites destas, obrigado, duplamente - este duplamente não é inocente - senhor ministro. Não só poupo nos impostos como melhoro a minha vida sexual. É só vantagens! Agora, bota aí uma pinga do tal Espadal, Belmiro"

sexta-feira, outubro 20, 2006

Quarto poder?

"A Autoridade da Concorrência (AdC), presidida por Abel Mateus, ignorou um estudo produzido por Pedro Pereira e Tiago Ribeiro, o primeiro dos quais economista sénior da própria concorrência, que antecipa as subidas de preços de 6,3% na área dos móveis na sequência da fusão da Optimus com a TMN. Este foi um dos estudos pedidos pela Concorrência para avaliar a Oferta Pública de Aquisição lançada pela Sonaecom sobre a Portugal Telecom no dia 6 de Fevereiro deste ano. Em contrapartida, Abel Mateus recorre a dois estudos solicitados pela Sonaecom a professores internacionais para rebater o referido parecer dos economistas nacionais "

in Confidencial, Caderno de Economia do jornal O Sol, de 14 de Outubro de 2006


"Se ela tivesse vivido mais 20 anos e tivesse continuado a ver publicados os seus artigos honestos, cheios de talento e sem medo, isso não teria mudado a sociedade"

Excerto de um texto sobre a jornalista russa Ana Politkovskaia, assassinada a 7 de Outubro, quando saía de casa, em Moscovo.

in GRANI.RU, traduzido pelo Courrier Internacional

quinta-feira, outubro 19, 2006

Pare, SCUT e... olhe, tenha paciência!

O presidente da Câmara de Vila do Conde, ao comentar o anúncio do fim das SCUT no Grande Porto, disse algo do género, aqui reproduzido de ouvido: “O sr. Ministro vive em Lisboa e não conhece o Porto. Se conhecesse não dizia o que disse avançava com isto”. Acontece, que dizem as más línguas, com o devido respeito pelo autarca e pelo ministro das Obras Públicas, que Mário Lino ou conhece bem o Porto ou está aconselhado por quem conhece bem os ínvios caminhos que são deixados, a tíulo gratuito, aos portuenses e nortenhos em geral com o fim das SCUT’s na A28, A29 e IC24. É que conhecendo as alternativas, quem se quiser movimentar – e movimentar é, no caso, literalmente não estar parado – nas zonas abrangidas pelas SCUT em vias de extinção, vai ter mesmo de andar e pagar, porque as alternativas não merecem tal tratamento.
Vejamos:

A28 – Porto – Viana do Castelo.
Alternativa – EN13:
Se o objectivo é fazer um passeio por uma zona arejada, verde, de grande produção agrícolo, aproveitando para comprar cebolas, batatas, nabiças, pencas e outras hortículas, a EN13 é a alternativa ideal para quem tem de viajar entre o Porto e Viana do Castelo (que tem um dos mais importantes portos de mar do país). Como bónus, a passagem pelas cidades de Vila do Conde, Póvoa do Varzim e Esposende, onde a fluência praticamente inexistente do trânsito permitirá apreciar – sem alternativa – o casario típico de ambas as cidades piscatórias (se viajar pela manhã, bem cedo, pode ainda comprar bom peixe, e fresquinho). Se o objectivo é ir do Porto a Viana do Castelo sem abastecer a despensa e o frigorífico, fazendo a viagem com alguma comodidade e rapidez, então a EN é tudo menos alternativa. No caso, a alternativa é pagar!

IC24 – Porto - Lousada
Alternativas EN 105 e EN 207.
Ainda em construção, o IC24 surge com dois objectivos nobres:
1 – Desviar o trânsito que vem de Norte para Sul da VCI, o centro do caos rodoviário do Porto, criando uma alternativa que passa ao largo da Invicta, facilitando a vida a quem precisa e a quem não precisa de andar no Porto.
2 – Proporcionar uma alternativa rápida, cómoda e segura à zona fortemente industrializada entre a Maia e Lousada, passando por Paredes e “capital do Móvel” Paços de Ferreira. Quando foi inaugurado o primeiro troço, talvez há uns 18 meses, foi anunciada como a via estruturante que ia ajudar as empresas da região a vencer a crise, como a estrada que levaria mais depressa e mais longe os produtos locais. Agora, só a pagar ou pelas alternativas EN207 e EN 105, que até à inauguração do IC24 não serviam para escoar condiganamente os produtos, como se depreende das ministeriais palavras inauguratórias.

As Alternativas (EN 105 e EN 207):
Se o objectivo é andar a passo de caracol por um emaranhado de casarios, aldeias, aldeolas, vilas e vilórias, qualquer uma das estradas servel. De Água Longa para a frente, a 105 deixa de servir a quem pretender entrar no coração da Rota dos Móveis. A Nacional 207, subindo a Serra da Agrela proporciona ainda a revisitação do roteiro da prostituição à antiga portuguesa. Para os mais exasperados ou dados a estas coisas, podem aliviar o stress de andar 10 quilómetros a ver a traseira de um camião a desfazer-se em fumo negro – Aviso: à vista desarmada, para um não-cliente, a muitas das trabalhadoras da indústria do relxa e entretenimento que pululam a EN 207 são, no mínimo, Balzaquianas maduras, sofrendo das naturais consequências da erosão temporal.

A29 – Gaia – Estarreja
Alternativa EN 109:
Ainda no percurso urbano, de um Grande Porto que vai até Espinho, há troços da “alternativa” que ficaram soterrados pela A29, concluída há cerca de um ano. Para quem vai do lado do Porto para Sul, depois de passar Vila Nova de Gaia, se não quiser pagar portagem tem de sair no nó de Francelos, andar duas a três centenas de metros sobre os restos mortais – e abandonados – da antiga 109, antes de escolher o rumo.
Tem duas opções: embrenha-se pelo emaranhado de estradas mal amanhadas nas localidades de Gulpilhares, a nascente, ou Francelos, a poente – em ambos os casos, vias estreitas, maioritariamente de paralelo e irregulares, onde mal passam dois carros e com frequência usadas como parque de estacionamento para os moradores, aliviados com o desvio do trânsito infernal de décadas após a inauguração da A29; a outra alternativa, saindo em Francelos, obriga à descida ao inferno das filas de trânsito junto à praia, obsviamente durante os meses de veraneio.
Depois de escolher um entre estes três tormentos, regressa-se à EN109, no nó de Arcolezo, junto a um Horto que é provavelmente o local mais frequentado do Mundo, aos fins-de-semana. Daí em diante, até Aveiro, são longos quilómetros de estrada com um limite de velocidade raramente superiror a 50 km hora, numa malha habitacional de tal forma enraizada que há portas que se abrem para o meio da via. Depois, há as escolas, as creches e toda uma vida feita, durante décadas, na beira da estrada, que prometem infernizar a vida a quem não quiser – ou não puder – pagar a portagem.

quarta-feira, outubro 18, 2006

O último (a)paga a luz

A electricidade vai aumentar 15,7% a partir de Janeiro. Era de esperar, com a privatização anunciada há cerca de dois meses. Foi assim com a liberalização do preço dos combustíveis, com a privatização de muitas das águas, com a liberalização do mercado das comunicações. Portugal é o país onde quando há privatizações, quando há mais concorrência, os preços aumentam. Isso explica-se porque, no fundo, isto a que muitos chamam país, está nas mãos de meia-dúzia de famílias - financeiras sanguíneas e finanço-sanguíneas - e o negócio é fazer de conta que há concorrência, porque todos querem é ganhar e cá o Belmiro, como Zé, paga.

Apesar da liberalização do mercado eléctrico, a EDP não tem concorrência ao nível da baixa tesnão, a dos consumidores particulares, como tem na média (das empresas). Não tem porque, no momento da liberalização do mercado, este, o mercado, não era apetecível, não era competitivo. Isto é, não dava para ganhar dinheiro. Agora, com a actualização das tarifas, certamente ficará mais apetecível e é quase certo que vão aparecer os interessados em “concorrer” com a EDP. O mercado vai abrir-se, mas como aconteceu com todos os mercados liberalizados, vai ficar mais caro do que era enquanto monopólio.

O secretário de estado justificou o aumento com grande parcimónia. “Quem provocou o déficit, quem gastou, agora vai ter de pagar”. E pronto, o princípio do utilizador é sempre demagogicamente defensável, mas aí onde ficam os deveres do Estado perante os cidadãos. Não compete ao Estado zelar pelo bem estar das pessoas? É opinião unânime cá na tasca que sim, por isso se pergunta: com estas medidas tão de Direita deste Governo “socialista” o objectivo é o Estado dar lucro, é a optimização empresarial do Estado como empresa? Mas então não é obrigação quase histórica de um Estado estar permanentemente endividado, para que os seus cidadãos possam viver um pouco melhor? Que bem me faz a muitos de nós que vamos começar a pagar portagem para ir para casa, onde a energia eléctrica para viver vai ficar mais caro que o Estado chegue ao fim do ano e apresente lucro nas contas públicas?

domingo, outubro 15, 2006

Domingo, dia de bola

É domingo, dia de bola cá na tasca. O trabalho é muito, a paciência é pouca mas fica aqui, sem multetas estilísticas ou recursos linguísticos, o relato de uma animada discussão à hora de almoço. Como é normal, só animada porque mete portistas e benfiquistas ao barulho, entre a critica arreigada e a defesa obstinada dos jornalistas. O resmudo dos jogos de ontem, motivou polémica quando alguém reparou no recurso ao léxico dito "anti-portista". No caso, o penálti do segundo golo do F. C. Porto (3-0, ao Marítimo, em jogo da Liga), com o jornalista usar o descomprometido eufemismo de "o árbitro considerou falta", minutos antes de Lucho (jogador do Porto) ter jogado a bola com a mão, independentemente da decisão do árbitro, que foi certa.
Esta expressão trouxe-me à lembradura alguns dos chavões jornalísticos, que já são frases feitas quadros nas paredes cá da tasca. É a polícia, coitada, "obrigada a intervir e usou gás lacrimogénio para dispersar os manifestantes", ainda que esses que não passem de uma velhas borolentas a fazer tricot; são so fogos, sempre anunciados como "violentos incêndios", ainda que seja preciso um plano fílmico muito aproximado para ser ver uma fogueirita de assar castanhas (vem aí o tempo delas, calha bem, e melhor caem com uma pinga de tinto); e, para não exagerar, porque não falta por onde pegar, "o alerta foi dado às xx horas" é a frase obrigatória para se iniciarem as peças sobre incêndios em fábricas, mais ou menos da responsabilidade da gerência.
Voltando ao futebol, é curioso, o destino assim as prepara, que a quebra da net só hoje possibilite a publicação do post. E logo calhou no dia em que o Benfica e F. C. Porto preparam jogos da Liga dos Campeões, que serão atentamente seguidos cá na tasca. À hora de almoço, ontem, segunda-feira, novo burburinho, à custa do futebol. Tudo porque o "Benfica, moralizado e super-motivado partiu para Glasgow", dizia a RTP, para uma gloriosa vitória, assim se depreende, e no F. C. Porto "Bosingwa não joga, porque está castigado pelo clube, que tem dois jogos decisivos contra o Hamburgo", mais adiante se disse, que caso não os vença tem o destino traçado.
P. S. - Só mais uma, porque isto das idiossincracias jornalistas é como as cerejas. A RTPn, que tem o n, de Norte presume-se, coloca o Sporting na liderança do campeonato, com os mesmos pontos do F. C. Porto, que é segundo. Curiosamente, as regras dizem o oposto, que é o F. C. Porto, que tem mais golos marcados, que deveria ser primeiro. Se o campeonato acabasse agora, a avenida da Liberdade, no Porto, voltaria a encher-se de festejos azuis e brancos, porque as regras assim o dtiam, enquanto na sede da RTP, com ou sem n, a festa seria verde, mas inverdadeira.
São pormenores, todos estes, que denotam uma tendência...

sábado, outubro 14, 2006

O termómetro e a enfermeira (não, isto não é um conto erótico)

O pessoal cá da tasca reuniu-se para fazer uma colecta com o objectivo de ajudar o Ministério da Saúde. Ficou barato e em três tempos lá se arranjaram os 8,5 euros necessários para a compra de um termómetro, digital no caso. Uma oferta cá da Tasca do Belmiro para um Centro de Sáude cá do sítio. É que no dito CS, cujo nome não vamos revelar por razões que adiante explicaremos, o único termómetro que há já não deveria existir: é daqueles de mercúrio, proibidos faz alguns anos. A enfermeira, quando confrontada com o facto, encolheu os ombros e disse: "É o que há". Mas o que há, não deveria existir! "Pois, mas é melhor este que nenhum..." retorqui a celestina.
O caso tem suscitado animadas e emocionadas conversas - o álcool ajuda, obviamente - cá na tasca. Logo houve alguém a brandir a espada da falta de profissionalismo das celetinas e dos nosócomos, acusando enfermeiras e enfermeiros de não terem brio, cá com frases de emoção "envinhada" do género "eu já teria comprado uma caixa de termómetros para oferecer ao centro de saúde". Isto, para resumir o sentimento em palavras de família.
Uma voz, mais serena e comedida, contou a história de uma tia, daquelas tias que todos temos, que só nós conhecemos e que dão um jeitaço para colorir e dar verdade às histórias. Enfermeira, essa tia, também ela em um centro de saúde de parcas condições e humilde clientela, que ousou comprar utensílios necessários ao exercício do mester, fazendo uso de alguns cobres próprios para impor o brio e o profissionalismo, ajudando o centro de saúde a servir melhor - embora todos saibamos que isso não vai mudar a ideia generalizada de que o serviço é mau, desumanizado e distante. A história, contada por alguém que jura a pés juntos e olhos aberto ser verdade verdadinha, acaba com uma ameaça de processo disciplinar à dita e briosa enfermeira. Entendeu, assim foi contado, o director do referido centro de saúde que tal atitude configurava insubordionação, não brio profissional, insulto, não empenhamento descomprometido, e questionava a autoridade do autoritário chefe.
A verdade jurada desta história é o motivo, agora se explica, porque é omitido o centro de saúde que segunda-feira, salvo qualquer imprevisto, vai ser ofertado com um novíssimo termómetro digital. Como não podem acusar aqui o povo da tasca de insubordinação, talvez não sintam o insulto e aceitem, de bom grado, a ajuda em forma de termómetro, a bem dos utentes que, à falta de alternativa, lá têm de se sujeitar as enfermidades ao tratamentos do Serviço Nacional de Saúde.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Scolari: o homem é bom!

Afinal, o seleccionador nacional, Luiz Felipe Scolari (assim mesmo, Luiz e Felipe), tinha razão: um empate com a Polónia era bom, pelo menos melhor que uma derrota, ainda que não tão bom como a vitória que à partida o brasileiro parece ter renegado.
Resta agora saber se Scolari é mesmo bom porque nos vídeos que viu dos polacos (porque ele não vê jogos ao vivo) descortinou na selecção da Polónia uma potência esquecida do futebol mundial, que ainda há pouco perdeu em casa, 3-1, com essa outra super-potência do pontapé na bola, a Finlândia (com quem tivemos a suprema sorte de conseguir um empate - visto pela perspectiva scolariana), ou se Scolari é bom a adivinhar porque ele próprio faz parte da advinha. É que ao estabelecer como meta a conqusita de 4 pontos, num máximo de seis, admitiu que, sendo certos os três pontos contra o Azerbeijão, ficaria contente com o empate na Polónia. Ao fazê-lo, diz-se cá pela tasca, tolheu a ambição dos jogadores, limitou-lhes a imaginação e a certeza de que a crença de vencer não só era uma opção viável, como uma exigência a quem tem estado, diz que é e quer continuar entre os melhores do Mundo. Para lá do discurso amedrontado (calculista, como alguns cá na tasca defendem), Scolari ainda deu uma ajuda à adivinhação do empate como bom, ao meter em campo um jogador como Ricardo Rocha, que falha demasiadas vezes e é demasiado efusivo quando faz o que lhe compete, ganha um lance ou corta uma bola, agindo, quando tem sucesso, como se acabasse de salvar o Mundo. Como se não bastasse, manteve a aposta em Costinha, um "Ministro" (assim lhe chamam) cada vez mais sem pasta, que parece já não ter capacidade, sequer, para secretário de Estado. Já para não falar da xenofobia do brasileiro, que teima em ostracizar o cigano Quaresma, ou se quiserem, a Portofobia, continuando a fazer de conta que não vê a magia daquele a que chamam o Harry Potter! Ai a vassoura...

quarta-feira, outubro 11, 2006

Blogers

Por que razão os blogues em que participam jornalistas são mais acutilantes, têm mais informação e são mais arrojados que os "média" em que estes trabalham?
É por serem mais lidos ou é por serem assim que são mais lidos que os jornais onde muitos bloggers trabalham diariamente?

domingo, outubro 08, 2006

Marcas da oralidade portuense

Coversa à mesa da tasca, entre três amigos, copos de tinto, petiscos vários e a Itália como prato principal:
A1 - A Itália é um país do caralho! Tem cidades fabulosas.
A2 - E tem uma história do caralhão!
A3 - Foda-se, é do caralho, mesmo!
Este pedaço de oralidade típica portuense, onde o palavrão é não só superlativo como adjectivo único, lembrou-me um texto que em tempos me foi enviado por um amigo mouro. O documento, simula uma circular interna de uma multinacional, alertando a delegação portuense para os excessos verbais. A coisa está bem feita, tem piada, mas é atraiçoada pelas diferenças da oralidade, no caso dos palavrões, entre Lisboa e Porto. É que no norte não se usa "picha mole" ou se diz "mariconso" ou "dum cabrão". Fora isso, como se diz cá por estas bandas portuenses, tá do caralho!
Deixo aqui 0 texto, na íntegra:

"Subject: FW: Circular Interna de uma multinacional Americana em Portugal (no Porto)

It has been brought to our attention by several officials visiting our corporate Headquarters that offensive language is commonly used by our Portuguese-speaking staff.
Such behavior, in addition to violating our Policy, is highly unprofessional and offensive to both visitors and colleagues.
In order to avoid such situations please note that all Staff is kindly requested to IMMEDIATELY adhere to the following rules:
1) Words like merda, caralho, foda-se, porra or puta que o pariu and other such expressions will not be used for emphasis, no matter how heated the discussion.
2) You will not say cagada when someone makes a mistake, or ganda merda if you see somebody either being reprimanded or making a mistake, or que grande cagada when a major mistake has been made. All forms derivate from the verb cagar are inappropriate in our environment.
3) No project manager, section head, or executive, under no circumstances, will be referred to as filho da puta, cabrão, ó grande come merda, or vaca gorda da puta que a pariu.
4) Lack of determination will not be referred to as falta de colhões or coisa de maricas and neither will persons who lack initiative as picha mole, corno, or mariconso.
5) Unusual or creative ideas from your superiors are not to be referred to as punheta mental.
6) Do not say esse cabrão enche a porra do juízo if a person is persistent. When a task is heavy to achieve remember that you must not say é uma foda. In a similar way, do not use esse gajo está fodido if colleague is going through a difficult situation. Furthermore, you must not say que putedo when matters become complicated.
7) When asking someone to leave you alone, you must not say vai à merda.
Do not ever substitute "May help you" with que porra é que tu queres?? When things get tough, an acceptable statement such as "we are going through a difficult time" should be used, rather than isto está tudo fodido.
8) No salary increase shall ever be referred to as aumento dum cabrão.
9) Last but not least after reading this memo please do not say mete-o no cu. Just keep it clean and dispose of it properly.
We hope you will keep these directions in mind.

Thank you."

sábado, outubro 07, 2006

White Rice

A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, andou a "salta-pocinhar" pelo Médio Oriente. Egipto, Arábia Saudita, não reparei nas notícia se Líbano também, depois de há pouco mais de um mês o primeiro-ministo libanês lhe ter vedado as portas de Beirute semi-destruída. Foi a Jerusalém, falou com israelitas e palestinianos e voltou para o avião de mãos vazias, cheias e quase nada. Conseguiu apenas uma promessa dos israelitas de abrirem com mais frequência o posto froteiriço de Rafah, postigo esperançoso para os hospitais do Egipto e, certamente, postigo igualmente esperançoso para a entrada de armas nos territórios ex-ocupados e de novo ocupados, mas não muito, pelo menos formalmente. Não conseguiu nada sobre Karni, posto de fronteira entre os 1,4 milhões de palestinianos da Faixa de Gaza e os bens essenciais que entram por Israel - o que não faz grande diferença, porque metade da população não recebe os salários desde Março, por isso se houvesse que comprar, que comer, maior seria a agonia. Assim, com tão pouco que comprar, o dinheiro quase nem faz falta.
Sem nada mais que uma promessa, provavelmente escrita no vento, lá foi de surpresa - escreveu-se - em planeada viagem a Bagdade pressionar os governantes a andarem da perna para acabar com a violência sectária no Iraque. Entre sunitas e xiitas, com algumas acções curdas, morrem por mês cerca de1500 pessoas no Iraque, quase todas vítimas de execuções racistas, culpados de pertencerem a esta ou aquela etnia.
Rice abalou-se, depois, à Província Autónoma do Curdistão, um quase-país dentro do Iraque, desde a primeira guerra do Golfo, em 1991. Por lá, Rice pressionou - ou exortou - os curdos, que tão bem se têm dado nestes 15 anos de autonomia lata, a aceitarem que o petróleo que jorra na região Norte do Iraque seja "um factor de união", um aglutinador do projecto federalista defendido pelos "States" para o Iraque. O presidente, ex-guerrilheiro, Barzani disse que sim, que apesar do direito à autodeterminação, que era desejo dos curdos viver num Iraque democrático, e disse ser favorável à partilha dos recursos do subsolo. Posição contrastante com frase proferidas, em sentido oposto, ao da partilha do petróleo, entenda-se, há cerca de um mês. A fiar nestas palavras, de agora, parece encontrada a solução para se aprovar no Parlamento iraquiano a divisão do território em três partes: duas, a dos curdos e a dos xiitas, ricas em petróleo, e uma outra, a dos sunitas, desértica e sem petróleo, mas com a garantia de que os outros dois estados federais, dos agora inimigos fidagais, vão partilhar o muito que têm com quem nada tem. Independentemente da viabilidade do cumprimentos destas promessas, fica a certeza de que o velho ditado tuguinha "Casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão", tem tradução e aplicação lá para as bandas das arábias, mais ao género de que terra onde não há petróleo, todos se matam, afinal, sem razão!


Cartoon de Javad Alizadeh/IranDecember ,8,2005, sacado de www.irancartoon.com

sexta-feira, outubro 06, 2006

Urgências da Saúde


O ministro da Saúde, Correia de Campos, anunciou o fecho de 14 urgências hospitalares no país.
Correia de Campos, que há pouco tempo disse que jamais iria a um SAP, garantiu que o fecho será feito com ponderação e de uma forma faseada, enquadrado numa reorganização das urgências hospitalares, de tendência centralista, uma vez mais.
O ministro, que não recorre aos serviços públicos, garantiu que haverá mais ambulâncias e carros de socorro. Entende-se, uma forma de minimizar o impacte do fecho das urgências, o que levanta a questão: se tem consequências e afecta as pessoas ao ponto de ser preciso reforçar os meios móveis de socorro, por que razão fecham?
O ministro, que não precisa de ir a um centro de saúde, diz que a reorganização das urgências pretende lutar contra a "dispersão" e o "facilitismo" em que se caiu nos últimos 20 ou 30 anos, e disse não ter a "pretensão" de deixar "99% das pessoas satisfeitas", por haver sempre "razões de queixa". O caso não é para menos, é que há pelo menos 1 milhão de portugueses com razões de queixa. São os 10% que segundo a Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências vão ficar a mais de 45 minutos de uma urgência, quando o ideal seria ficar a menos de 30 minutos.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Dia da República

Só para assinalar o dia da República.
Apesar da ditadura da economia,
Apesar da opressão dos bancos,
Apesar do endividamento das famílias,
Apesar das OPA's e das fusões,
Apesar da censura crescente na imprensa,
Apesar dos brindes dos jornais,
Apesar do Governo de Esquerda que governa à Direita,
Apesar das privatizações na Saúde,
Apesar do fecho de urgências e maternidades,
Apesar dos quase 500 mil desempregados,
Apesar do preço dos combustíveis,
Apesar do aumento constante dos bens essenciais,
Apesar das privatizações que só resultam em aumentos, apesar da dita concorrência,
Apesar das mudanças na gramática,
Apesar do reinado da imprensa cor-de-rosa,
Apesar do sucesso de Floribela e dos Morangos com Açucar,
Apesar dos livros de Margarida Rebelo Pinto e quejandos,
Apesar do processo Casa Pia,
Apesar do processo Apito Dourado e do ouro falsificado para falsificar resultados,
Apesar da justiça a passo de caracol,
Apesar da estupidez que reina nas estradas,
Apesar da corrupção,
Apesar da classe política que temos, sem experiência de vida,
Apesar de estar velhina de 96 anos,
Viva a República, que sempre é melhor que uma ditadura com os mesmos ou mais defeitos!



Foto sacada de http://pedromelim.wordpress.com/

segunda-feira, outubro 02, 2006

A morte da estrada da morte


A estrada da morte, morreu. Finou-se o IP5, agora Auto-Estrada 25, obra nova erguida, qual Fénix, das cinzas de centenas de cadáveres. Contas por alto, a um erro de 20 anos, a uma média de 25 cadáveres por ano, entre estropiados, esmagados, carbonizados, e decepados, o "erro histórico" a que aludiu o primeiro-ministro matou 500 pessoas. Os feridos, entre gravidades mais ou menos graves, ascenderão à casa dos milhares. Há os estropiados, fisica ou mentalmente, e os que rasgados na carne e na alma vivem como se tivessem morrido no IP5, os vivos-mortos.
Agora que a A-25 liga Aveiro a Vilar Formoso, liga o Norte e o Centro a Espanha, o erro vê-se ainda mais grotesco. À falta de visão de fazer do IP5, com aquele traçado assassino, a principal entrada e saída do país, junta-se a ignominia de comprovar que, afinal, era possível fazer uma auto-estrada por aquelas serras, ditas à altura, intransponíveis noutro tipo de traçado, para a medida da bolsa portuguesa. Poupou-se no alcatrão, gastou-se em vidas, em indemnizações, em assistência pós-traumática. Não se investiu, gastaram-se vidas. Feitas as contas, se fosse possível racionalizar ao ponto de esquecer as mortes, talvez tivesse ficado mais barato optar logo pelo mais caro há 20 anos, pela tal auto-estrada que era tão impraticável, que foi preciso enterrar no IP mais de 500 vidas.
O erro histórico, comprovou-se a ele próprio todos os dias destes 20 anos, mas os únicos que pagaram por este pecado foram os que morreram, os familiares que cá ficaram, amputados, e os vivos-mortos, os sobreviventes físicos da brutalidade de um choque frontal com a morte. Os outros, os que desenharam a estrada, os que aprovaram troços como aquele de 13 fatídicos quilómetros (km 61 a 74), particularmente aquela curva à direita no fim de uma zona de ultrapassagem, com redução de duas para uma faixa, seguem impunes aos olhos da justiça. Resta saber se dormem...
Dos responsáveis políticos, dos que fizeram as contas à impraticabilidade de um A e optaram pelo IP, tenho memória de apenas um ter sido julgado, no caso, na praça pública das eleições presidenciais, que venceu no início do ano. Dos outros, bailam-me apenas na memória as memórias dessas frases, fantasmas, justificações da impossibilidade de acabar com a estrada da morte, quando esta ainda mal sabia manejar a foice!